A Torre de Centum Cellas, também conhecida por “Torre de São Cornélio” ou Centocelas, como é referida em documentos desde o séc. XII, situa-se numa área particularmente fértil e próxima da confluência da Ribeira de Gaia com o Rio Zêzere, cujos aluviões metalíferos sabemos terem sido explorados desde épocas bastante recuadas e pensa-se que terá sido construído nos inícios do séc. I. Centocelas é o nome de uma das povoações existentes num território que D. Sancho I cedeu à Sé de Coimbra, e é também a esta povoação que o bispo D. Pedro dá foral, em 1194. Em 1199 D. Sancho I, em acordo com o referido bispo D. Pedro, retira o poder municipal a Centocelas e dá foral a Belmonte, dando-lhe como limites territoriais os anteriormente estabelecidos para Centocelas (Dias, 1972).
O edifício terá sofrido um incêndio e destruição de consideráveis dimensões em finais do século III, altura em que foi alvo de algumas alterações, designadamente ao nível da disposição dos vários elementos que o compunham na origem. De entre este conjunto de remodelações, realçamos a presença de uma sala com abside e larário, para cuja edificação foram reaproveitados materiais pertencentes às estruturas preexistentes.
A Torre de Centum Celas foi classificada como Monumento Nacional pelo decreto-lei 129/77, de 29 de setembro.
Na verdade, foram elaboradas ao longo do tempo as mais diversas teorias respeitantes à sua real funcionalidade primitiva. Assim, desde templo, a prisão, passando por um praetorium (núcleo de um acampamento romano), a um mansio (estação de muda), mutatio (albergaria para descanso dos viajantes), villa romana, para além de muitas outras, tudo parece ter sido contemplado e proposto. Todavia, as escavações realizadas pelo IPPAR, entre 1993 e 1998, demonstraram que o edifício da Torre não se encontrava isolado, antes, sim, inserido num conjunto estrutural mais amplo e complexo, que incluía diversos compartimentos, de entre os quais sobressaiam salas, corredores, escadarias, caves e pátios.